sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Milho de pipoca






A transformação do milho duro em pipoca macia é o símbolo da grande transformação por que devem passar os homens, para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Mas, a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre. Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas.
Só elas não percebem, acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito para "ser".
Mas, de repente vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor, por exemplo.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, uma mão, um pai, ficar doente, perder o emprego, etc.
Também tem o fogo que vem de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão; sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. Mas, com isso diminui a possibilidade da grande transformação.
Imagine que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer!!
Dentro da sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar a transformação que está para acontecer. A pipoca não imagina aquilo do que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, vem o estouro e a grande transformação...
Ela aparece como uma outra coisa completamente diferente e que ela mesma nunca havia sonhado ou imaginado.
"Piruá" é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas, que por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é ficar triste, virar "piruás" e ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os "piruás", que não servem para nada; seu destino é o lixo...
E você, o que você é?!

Rubens Alves (texto retirado do livro "O amor que acende a lua")

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